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14 de December , 2020
Por: Agencia B&B

Quase dois anos se passaram entre o primeiro texto da ABD sobre a Educação a Distância (EAD) e os dias de hoje. O contexto pandêmico que dominou o mundo, ainda presente, exigiu uma abrupta tomada de decisões para o empreendimento de ações educativas nas instituições – de responsabilidade dos docentes, muitas vezes neófitos na arte de se comunicar a distância.

O fato exigiu o abandono de uma posição fechada, defendida por muitos, que repudiava a EAD, e lançou professores de todos os níveis – fundamental, médio e superior, à imersão em um novo universo, buscando a criação de uma nova perspectiva sobre o sistema a distância. O mergulho exigiu um pensamento progressista, isento de ideias preconcebidas, de quem é livre para pensar e aprender a ver outras faces de um mesmo problema.
Com diferentes graus de imposição, as instituições de ensino indicaram o novo rumo. O tom do embate foi pautado pela política, pois a educação, como tudo, é por ela permeada. Quanto à técnica que também dela faz parte, havia um longo caminho a percorrer – entre a urgência de se implantar um ensino remoto para atender às demandas das instituições com seus requisitos econômicos, dos estudantes, e a necessidade de instrumentalizar os docentes surpreendidos pela situação inusitada. O trajeto foi percorrido em curtíssimo espaço de tempo, um desafio. Não sem dificuldades.

Cumpre, nessa situação, estabelecer uma diferença fundamental entre a educação a distância propriamente dita, modalidade sistematizada pelo MEC e defendida por várias instituições, e o ensino remoto excepcional, estabelecido em cursos presenciais, em caráter singular exigido pelo contexto. Na EAD o conteúdo está pronto, organizado e estruturado através de uma plataforma específica e instrumentos didáticos pré-definidos, que contam com um tutor para a sua implementação. No caso do ensino remoto em caráter emergencial, foi necessário um ágil esforço do corpo de professores – reféns da situação, para se reinventar, algumas vezes com uma pressa inimiga que resultou apenas na disponibilização, em novos moldes, de conteúdos criados para o ensino presencial: um corpo em veste inadequada tentando dançar conforme a música, pode ser uma boa metáfora.

Pouco se apontou para a sobrecarga e para o investimento dos docentes nesta empreitada. O ônus foi alto e continua sendo: a busca de recursos, plataformas e aplicativos, de equipamentos adequados, a instalação de Wi-Fi compatível, dentre outros, foram o aspecto mais objetivo a ser vencido. Mas o ônus maior, e desse, pouca gente falou, foi a sobrecarga de energia psíquica pertinente a essa adaptação – da passagem de um processo educacional
pautado no encontro entre pessoalidades a uma metodologia virtual em que o contato se faz em uma ordem diferente. Com resultados certamente diferentes, também.

Não há dúvida que a modalidade remota acarreta benefícios, além da ampliação do acesso aos estudos – já mencionado em texto anterior. Há que se destacar principalmente os de ordem prática: para as instituições, redução de gastos com pessoal (docentes, técnicos-administrativos e equipes de manutenção e limpeza), redução de gastos com manutenção e conservação das instalações, dentre outros; para os estudantes, economia de gastos com locomoção, vestimenta e, principalmente, economia de tempo no transporte, origem de grande desgaste nos centros urbanos. Nas atividades de ordem teórica, também há vantagens: as imagens que se mostra aos discentes ficam excelentes na tela dos computadores, muitas vezes com resultados visuais melhores do que na sala de aula, presumindo-se aqui boas condições de acesso e bons equipamentos dos mesmos. A gravação dos conteúdos, acordada entre envolvidos, permite seu uso de modo assíncrono. Tais vantagens de ordem pragmática, no entanto, são acompanhadas de efeitos colaterais dos quais não se tem controle: o principal deles, a presença marcada por ícones, que omitem estudantes dispersos em eventos domésticos extraclasse que invadem seu campo de atenção e competem com os conteúdos da aula. Faces instigantes e motivadoras que revelem interesse, compreensão, desacordo e questionamento são trocadas por imagens inócuas – prejudiciais como feedback motivacional. O fato evidencia, sob um olhar mais cuidadoso, além da recorrente justificativa da precariedade da internet, a falta de empatia com a aula, senão com o professor.

Em relação às orientações de projeto, a perda é ainda maior: como superar o distanciamento estabelecido pela máquina e chegar ao tête-à-tête necessário ao encontro entre docente e discente, apoiado no projeto, que permite ao primeiro se posicionar no lugar do segundo e a este perceber, na sutileza das palavras do professor, a indução ao insight que qualifica o ato, que altera o patamar de aprendizado, e alcança a solução? Disso não se pode abrir mão, sob pena de não se atingir o ponto nodal do processo de ensino-aprendizagem em projeto de interiores. É nesse ato mágico da vivência que, além do ato de fazer, se desenvolve o ser, em que se impulsiona a socialização, o desenvolvimento do senso crítico, a capacidade reflexiva, a competência para a interlocução com o outro e a responsabilidade projetual.

Diante de novas perspectivas que prolongam e ratificam o ensino remoto, da pressão das instituições que oferecem cursos à distância e de estudantes que optam por esta modalidade de ensino, cabe à ABD se posicionar estabelecendo princípios que podem nortear a discussão e quem sabe sensibilizar gestores quanto à necessidade de um sistema pelo menos híbrido que afirme o valor do contato professor-estudante, e também entre os estudantes, e que garanta o intercâmbio plural, síncrono de ideias entre os partícipes do processo ensino-aprendizagem:

1. A necessidade da conscientização das instituições de ensino que ministrem cursos de Design de Interiores em quaisquer dos seus níveis, médio ou superior (tecnologias ou bacharelados) do seu importante papel na busca de uma formação de excelência necessária para a consolidação da profissão e para o reconhecimento profissional;

2. A compreensão do que é o design de interiores e de qual o perfil do designer formado em cada curso e sua divulgação de modo objetivo aos estudantes, ampliando a sua compreensão e as suas alternativas de formação profissional;

3. A necessidade de transparência quanto ao aprofundamento exequível nos diferentes níveis de ensino, que certamente alcançam diferentes patamares de verticalização;

4. A conscientização do design como área de atuação transdisciplinar que requer maturidade, intercâmbio com outrem e comprometimento com a coparceria;

5. A qualidade humanista do design de interiores como área dentro das ciências sociais aplicadas que requer a construção de um tecido social só possível na vivência interpessoal que as instituições de ensino oportunizam ao seu corpo social; a socialização assim praticada é base da atuação profissional futura;

6. O comprometimento com um ensino híbrido que se paute em:
a. Aulas teóricas em modalidade remota que incentivem o contato virtual docente-estudante-estudante e que motivem a reflexão e a pesquisa além da estanqueidade de apostilas e instrumentos disponíveis aos alunos;
b. Aulas presenciais em atividades projetuais nas quais o ser, o pensar, o fazer e o criar sejam trabalhados como resultado de intercâmbio entre pessoas-em-atividades-síncronas compartilhando um espaço fértil de troca e cooperação e onde a empatia nas interações sociais amplie a reflexão e os questionamentos necessários ao fazer design;

7. A preocupação e o cuidado com os formatos híbridos, provavelmente incorporados aos diferentes sistemas, que devem se pautar em uma avaliação permanente por comissões pedagógicas comprometidas com a especificidade da área de modo a vencer obstáculos e propor soluções particulares a cada caso.
O hiato entre o mundo profissional e o mundo acadêmico é um obstáculo a ser vencido. Por isso, a ABD torna pública esta declaração e convida à reflexão de todo o seu corpo social, profissionais, docentes e estudantes, rumo ao estabelecimento de diretrizes de qualidade na formação dos designers de interiores. A boa formação garante bons profissionais aptos a contribuir para o desenvolvimento. A nossa necessária consolidação só será possível com o desenvolvimento científico do campo. Devemos estar juntos nessa questão.

 

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